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Para ampliar a discussão e acelerar a evolução do futebol brasileiro

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Temática levantada pelo zagueiro Paulo André deve ser amplamente discutida para impulsionar mudanças na formação do atleta brasileiro

Na semana passada, a Universidade do Futebol publicou na íntegra o post feito pelo zagueiro do Corinthians Paulo André, em seu blog oficial, a respeito das Categorias de Base, mais especificamente em relação ao clube que atua. Uma semana depois, um importante canal de televisão brasileiro, em seu portal de notícias, promoveu uma matéria com um atleta corintiano recém-contratado, em que o tema principal era a qualidade da “resenha” do jogador e as mais de 500 mulheres com as quais ele já saiu.

Como devemos respeitar as diferentes interpretações/visões da realidade, feitas por cada indivíduo/sociedade, e compreender que questões como estas, ou então, de Luiza, do Michel Teló, além do episódio no BBB, são mais atrativas do que questões ideológicas e revolucionárias, prefiro, ao invés de criticar a referida matéria, divulgar a louvável iniciativa do zagueiro Paulo André e “brigar” para que ela ganhe maiores dimensões.

Há alguns dias, participei de uma matéria feita pelo canal SporTV que abordava a perda de prestígio dos treinadores brasileiros no cenário mundial. De uma maneira simplificada, a reportagem permitiu a compreensão de somente um pequeno fragmento do todo que tem desprestigiado nossos treinadores e, é claro, nosso futebol. A repercussão da matéria: mínima!

Da grande parte das ideias que tentei transmitir em cerca de 5 minutos de entrevista, somente alguns segundos foram ao ar. Estou certo de que muitas, senão todas as ideias que mencionei à jornalista já foram bastante discutidas/exploradas/evidenciadas na Universidade do Futebol. Porém, estas ideias (as minhas, as suas, as dos demais colunistas e colaboradores) não podem ter suas divulgações restritas somente a este espaço.

E é neste ponto que o atleta Paulo André pode contribuir com nossas reflexões diárias acerca do futebol. Atleta profissional de um clube de massa, com respeito de diretoria, torcedores e mídia em geral, o valor simbólico da sua opinião é infinitamente superior a minha, colunista semanal e técnico adjunto do pequeno Paulínia FC.

Ao ler o post de Paulo André, redigi a seguinte opinião: 

“Qualquer comentário sobre a atual situação do futebol brasileiro pode parecer pobre quando comentada em poucas linhas, ainda mais quando o assunto se refere às Categorias de Base, ou melhor, ao FUTURO do nosso futebol.

Já mencionei em uma das minhas publicações na Universidade do Futebol que o Brasil tem material humano suficiente para ter pelo menos um Barcelona (clube modelo de formação) por Estado. Para isso, falta o principal: gestão competente do departamento de futebol profissional dos mais de mil clubes espalhados pelo país.

Poderia comentar a visão da Gestão para os diferentes perfis de clubes (formadores, clubes de massa, clubes pequenos) e também sobre os diferentes perfis de administração (terceirização, abandono, descaso, investimentos exorbitantes), que possibilitaria uma maior visão sobre as Categorias de Base no Brasil, porém, como você relata o case Corinthians (clube de massa com investimento anual exorbitante na Base), é nele que irei me prender.

Concordo plenamente que poucos jogadores estão maduros (fisica-técnica-tática-emocionalmente) aos 18 anos para ingressarem em alto nível no Depto. Profissional, porém, emprestar jogadores penso que não é a alternativa mais viável. Disputar competições com uma equipe B é uma opção plausível. O elenco principal teria mais tempo para a pré-temporada (e você mais tempo de preparação que tanto deseja) se vocês jogassem somente alguns jogos do Campeonato Estadual. Num ano em que vale o título ainda não conquistado (Libertadores), Campeonato Paulista não deve ser prioridade de título da diretoria. Eis um momento importante para jovens jogadores amadurecerem!

Sobre a mudança de idade da Copa SP, na minha visão, é indiferente. Clubes bem planejados, não devem fazer deste torneio o divisor de águas sobre um bom ou um mau trabalho. O São Paulo foi Campeão Paulista sub-20 e eliminado na 1ª fase da Copinha; sinal que está tudo errado e que alguém deve pagar por isso? De maneira alguma…

Caso o Corinthians seja campeão (assim como foi), também não significa que muitos estarão em condições de jogar no profissional. Com diversas competições nacionais e internacionais de categorias de base, a Copa SP é somente mais uma com mais visibilidade do que as demais devido ao recesso do futebol profissional.

Desfazer-se da categoria de base, no caso do Corinthians, é desfazer-se da grande identidade futura do clube. Qual o melhor ambiente para a raça corintiana (idolatrada pela torcida) ser adquirida que não no depto de formação do clube? Será que, ao longo do tempo, todos os jogadores contratados viriam com este sentimento/atitude?

Será que as contratações se encaixariam perfeitamente no Modelo de Jogo do clube (e não no Modelo do treinador)?  Se tal Modelo estiver sendo desenvolvido desde o Dente de Leite (como faz o Barça) ao sub-20/sub-23, pouquíssimos jogadores precisariam ser contratados.

Este meu argumento poderia ser facilmente batido ao mencionar que o Real Madrid quase não tem jogadores da Base. É fato, como também é certo que é muito custoso (muito mais que R$ 15 milhões) e que não é garantia de título. Faz anos que o Real não disputa uma final de Champions.

Concluindo, passa tudo pelo principal: gestão competente do depto de futebol profissional que deve estreitar a comunicação com a Base, contratar profissionais capacitados para o depto. de formação, aproveitar as mudanças da lei Pelé que privilegiam o clube formador com um contrato, transmitir uma Filosofia desejada e supervisionar sua aplicação, profissionalizar com salário coerente atletas em potencial e preparar os jogadores (fisica-técnica-tática-emocionalmente) com o que há de mais atual em relação à metodologia de treinamento e se desvincular de agentes/empresários que limitam a evolução do futebol brasileiro e prejudicam os clubes.

Enfim, é um processo demorado, trabalhoso, mas que pode dar sentido (lucro e sustentabilidade) à existência das categorias de base dos clubes de massa.

Talvez, com a operacionalização de tudo isso, jogadores mais “maduros” (atletas e não boleiros) apareçam em maior número e já nas idades de transição da categoria Júnior.”

 O Paulo André ainda irá fazer mais três publicações sobre o mesmo tema. Irá, inclusive, contrapor a opinião da postagem inicial.

Não deixe de se posicionar! Entre no blog do atleta e o instigue com reflexões, questionamentos e comentários. Enfim, faça sua parte. Quanto mais pessoas pensarem e intervirem nas questões do futebol de formação, mais rápida será nossa evolução.

Por enquanto, agradeço ao Paulo André pela iniciativa.

Bem que poderíamos ter um jogador (atleta e não boleiro) como este por clube grande do futebol brasileiro…

O Modelo brasileiro de formação, o Footecon e o que podem ser boas notícias para o nosso futebol

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Discussão no VIII Fórum Internacional de Futebol deixa marca importante para o futuro da modalidade

Caros leitores,

No último dia 6 de dezembro, tive o privilégio de, pela primeira vez, participar do Footecon. Este fórum, idealizado há oito anos e organizado pelo ex-técnico da seleção brasileira de futebol, Carlos Alberto Parreira, mais do que networking, possibilita a observação do que é tema de discussão entre os grandes nomes e clubes do futebol brasileiro.
Como havia palestras simultâneas e tinha a disponibilidade de permanecer somente por um dia, seguramente perdi discussões de alto nível, porém, das que pude participar, destaco duas que precisam ser amplamente divulgadas e que serão sintetizadas nas próximas linhas.
Precisam ser amplamente divulgadas porque todas as atitudes que favoreçam o potencial de desenvolvimento do futebol brasileiro devem ser ouvidas e analisadas pelo maior número de stakeholders possíveis para que, de acordo com as adaptações necessárias em cada realidade, sejam colocadas em prática.
A discussão sobre a importância da formação de atletas tem ganhado cada vez mais espaço nos diversos ambientes em que se discute futebol. Quando esta conversa surge nas salas universitárias, os comentários tendenciosos dizem que é um tema muito acadêmico para o mundo do futebol. Se é feita pelos dirigentes dos clubes formadores emergentes, o contraponto é feito afirmando que o custo x benefício desse investimento não é vantajoso; e, se é feita por jovens e ainda inexperientes treinadores, as opiniões os classificam como sonhadores num aparente imutável cenário brasileiro no tocante à formação.

E se num destes ambientes em que se discute futebol as pessoas que estão sentadas à mesa não são jovens, não são dirigentes de clubes emergentes, nem são acadêmicos e sim figuras representativas no mercado como: o treinador da seleção brasileira principal, Mano Menezes, o (ex) diretor executivo de futebol do Vasco da Gama-RJ, Rodrigo Caetano, o Coordenador das categorias de base do Internacional-RS, Jorge Macedo e o gerente de futebol do Fluminense-RJ, Marcelo Teixeira. Será que o tema ganha relevância? Não tenho dúvidas!

Durante cerca de uma hora, com transmissão em canal fechado num horário não tão acessível para os profissionais do Esporte, estes quatro profissionais do futebol deram uma aula (com um valor simbólico infinitamente superior àquelas minhas colunas que valorizam a formação dos atletas brasileiros) sobre quais devem ser os caminhos escolhidos pelos gestores do futebol brasileiro para que a supremacia estabelecida no passado seja mantida no futuro.

Para Mano Menezes, a infraestrutura dos grandes clubes do país é muito boa, no entanto, a Filosofia vigente é extremamente prejudicial, pois valoriza o vencer em detrimento do formar.

Quando questionado sobre como modificar a Filosofia, Mano disse que não é responsabilidade do treinador da equipe profissional alterá-la ou estabelecê-la. É função da empresa, que deve transmiti-la ao seu corpo técnico, da base ao profissional, mantendo somente os profissionais que se adequam, que são competentes, e não os que são “boa gente”.

O treinador da seleção disse ainda que as diferentes categorias do clube (inclusive a profissional) precisam ampliar as ligações para não criar abismos nas transições e perdas de jogadores em potencial, que gostaria de ver os jogadores brasileiros com maior identidade aos clubes formadores (e não somente ao dinheiro, pressão dos agentes e da família), que o potencial de melhora é imenso e que junto à CBF ele (que já conseguiu mudanças significativas na base canarinho em 2010) lutará por um projeto que defina diretrizes para o futebol brasileiro de formação.

Rodrigo Caetano, em suas primeiras palavras, foi enfático ao mencionar a desvalorização dos profissionais da base e a ausência de um plano de carreira para os mesmos. Outra opinião foi a de que numa equipe profissional deveria haver um número mínimo de atletas oriundo das categorias de base do clube. Corroborando com Mano, o (ex) diretor vascaíno disse que aplicar e cobrar a Filosofia, são funções de quem coordena o Depto. de Futebol e finalizou, afirmando que um possível legado da melhoria no Modelo de Formação Brasileiro seria uma maior permanência de grandes atletas nos clubes formadores, como Dedé e Neymar, e por consequência um maior espetáculo.

Jorge Macedo apontou que a continuidade, ou melhor, a falta dela é um grande mal no futebol brasileiro que, pela necessidade do mercado de se antecipar a formação para 17 e 18 anos e pela dificuldade dos gestores brasileiros em administrar a pressa, perde muitos jogadores que não recebem o tempo de maturação adequado para comporem o elenco profissional. Uma saída do Inter-RS para este mal foi a criação da equipe B, sub-23.

Outro ponto interessante comentado pelo profissional da equipe gaúcha foi em relação ao excessivo assédio a atletas até dezesseis anos de idade (que não podem ter contrato profissional), a necessidade da blindagem desses atletas, a inevitável exposição, mas o receio em perdê-los.

Já Marcelo Teixeira iniciou mencionando que no Manchester United os salários para os treinadores das categorias de base são os mesmos independentemente da categoria com a qual trabalhe. Segundo Marcelo, uma das ferramentas necessárias para a evolução da formação brasileira é a criação de uma área de Inteligência e detecção do talento que, na maioria das vezes, é feita por profissionais que buscam jogadores de acordo com o seu próprio “olhar” e não a partir de procedimentos estabelecidos pelo clube no qual o scouter é contratado/presta serviços.

De acordo com dados coletados por Marcelo, os atletas que foram negociados desde a criação do centro de formação do clube em Xerém, no fim da década de 90, deram maior retorno do que o custo operacional para manutenção do CT. Finalizando suas opiniões, Marcelo criticou a mais nova profissão, conhecida como “pai de atleta”, criticou também o assédio aos jogadores não profissionais (no último sul-americano sub-15 o Fluminense teve um jogador assediado para trocar de clube por R$ 200.000,00) e a importância dos campeonatos sub-23.

No fim da mesa, Mano pediu discussões mais profundas sobre o tema. Podemos esquecer o pedido, aceitar que o futebol brasileiro é assim mesmo, lamentar a saída do Rodrigo Caetano após divergências com os dirigentes do clube carioca e arquivar este assunto. Ou então, podemos encarar o problema (e que problema!), assumirmos que estamos distantes dos modelos de formação dos clubes europeus, “mostrarmos a cara” a dirigentes avessos à mudança para que daqui alguns anos (muitos ou poucos), possamos chegar à final do Mundial de Clubes da Fifa e, com convicção, afirmarmos: Somos favoritos! Só de material humano, poderíamos ter um Barça por estado brasileiro.

Semana que vem, o “jogo jogado” com a cabeça e o case Figueirense.

Written by Eduardo Barros

17 de dezembro de 2011 at 9:03

Por que ele vai subir de categoria?

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Decisão de final de ano deve ser feita com base em potencial de valor agregado e necessita análise individual completa

Há cerca de um ano, em uma de minhas primeiras publicações na Universidade do Futebol, escrevi sobre resultado nas categorias de base. Com uma série de questionamentos a dirigentes e membros da comissão técnica, o objetivo do artigo era mostrar que uma infinidade de variáveis, além das vitórias dentro das quatro linhas, deveriam ser analisadas para que, de fato, os verdadeiros resultados fossem mensurados.

Um dos questionamentos feitos segue descrito abaixo:

“Existe um relatório individual de desempenho (banco de dados), que acompanha a performance (tática, técnica, física e emocional) de cada atleta ao longo dos anos?”

Como o recesso das categorias de base do futebol brasileiro ocorrerá nos próximos dias, com exceção dos juvenis que terão oportunidade de jogar a Copa São Paulo de Futebol Jr., o momento é extremamente pertinente para a aplicação, ou então, criação do referido relatório.

É sabido que grandes equipes têm a possibilidade de conquistar campeonatos, porém, tais campeonatos não necessariamente significam retorno financeiro (principalmente nas categorias de base), que se dá predominantemente a partir da negociação de um jogador.

Logo, cada jogador, ou melhor, produto, deve ser analisado quantitativa e qualitativamente de modo a ser definido o seu potencial de valor agregado (para futura negociação) até a conclusão do processo de formação.

Definir o potencial de valor agregado é estimar quais serão as características deste jogador que o diferenciará de seus concorrentes (que são muitos), para que tenha maior atratividade comercial.

Posto isso, como analisar um atleta quantitativa e qualitativamente ao longo de um ano?

As informações acerca de determinado jogador que possibilitam a composição de um relatório não são difíceis de serem conseguidas e não precisam de ferramentas inacessíveis para a grande maioria dos clubes de futebol brasileiros, como por exemplo, softwares de gestão integrada. Com boa comunicação interna e recursos básicos do Office é possível estabelecer um banco de dados eficiente para o clube.

Para os dirigentes da base, ter o registro do desempenho obtido e do potencial que pode ser atingido por cada jogador permite um posicionamento coerente perante aos gestores e investidores do clube em relação ao investimento que está sendo feito em cada categoria.

Para os treinadores, ter em mãos um relatório completo dos seus novos atletas no início do ano poupa-lhes tempo ao proporcionar informações importantes como perfil disciplinar, versatilidade e/ou especialidade, liderança, qualidade técnica, etc.

Como informações quantitativas gerais encontram-se o ano de ingresso no clube, a frequencia anual de treinamento, a quantidade de jogos disputados, o tempo total jogado, os cartões recebidos, os gols feitos, as assistências, além das informações de crescimento e desenvolvimento como altura, peso e desempenho nas avaliações físicas.

Já como informações qualitativas, é possível estabelecer o desempenho comparativo do atleta em relação a sua própria categoria, uma análise das competências essenciais do jogo (relação com a bola, estruturação do espaço e comunicação na ação), e uma análise subjetiva (feita pela comissão técnica) tática-técnica-física-emocional de acordo com o Modelo de Jogo adotado. Para tornar as informações qualitativas ainda mais completas uma produção em vídeo, de pontos fortes e pontos fracos do jogador, pode ser criada, dos quatro momentos do jogo (ataque, defesa e transições).

Após esta análise individual completa é função dos dirigentes de base do clube, reunirem todas as comissões técnicas para, em conjunto, definirem quais são os atletas que têm condições de serem promovidos para a categoria seguinte e quais terão que ser dispensados.

Esta discussão, que envolve a participação de todos e que tem um gestor como mediador, seguramente, diminui os riscos de um erro extremamente comum nos clubes brasileiros: investir por muitos anos em jogadores que não têm potencial de negociação ou atuação no departamento profissional e dispensar os que têm.

Com informações mais precisas, todos os envolvidos (atletas, comissões, dirigentes e investidores) são beneficiados. O atleta dispensado pode ir em busca de seu objetivo em outro clube ao invés de aguardar aquela ligação para se apresentar no início do ano e, após poucos dias de treino e elenco “inchado” ser liberado, pois o seu último treinador não o fez quando deveria; o atleta que subir de categoria é o que o clube realmente vislumbra retorno futuro e que deu mais um importante passo na pirâmide que ano a ano estreita até a profissionalização; a comissão técnica assume a devida responsabilidade profissional de, por estar no dia-a-dia de treinos e, mais do que os dirigentes, ter a obrigação de conhecer profundamente cada um dos seus jogadores, opinar favorável ou contrariamente a promoção de categoria e ser cobrada futuramente por isso; os dirigentes, com o registro de todos os seus produtos e potencial de valor agregado pode se posicionar perante a concorrência e fazer as readequações estratégicas necessárias; e os investidores poderão saber como andam seus investimentos e para quando está previsto o retorno.

É certo que na vida, digo, no futebol, muitos acontecimentos nos distancia das práticas descritas acima. Interesses pessoais, influências políticas, autonomia limitada, entre outros fatores presentes no futebol, digo, na vida, ocorrem e sempre ocorrerão.

Para quem não aguarda o “mundo ideal”, já mencionado em outra ocasião, tem muito com o que contribuir para profissionalizar os procedimentos nas categorias de base. Para isso, é fundamental ampliar as discussões profissionais e não opiniões pessoais sobre cada jogador.

Caso alguém se interesse por uma planilha-modelo simples para fazer um relatório anual de um jogador, escreva-me.

Quantos atletas você irá subir de categoria?

Abraços e até a próxima semana!

O Currículo de Formação do Atleta de Futebol – Parte IV

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Apresentação de alguns sub-temas dá sequência à discussão de material aplicado em clube formador do futebol paulista

Na parte II do Currículo de Formação do Atleta, foi possível observar os oito grandes conteúdos que compõem o material. Naquela oportunidade, foram identificados os temas que derivam de cada conteúdo e sinalizado que em outro momento seriam apresentados os sub-temas.

Nem todos os temas se dividem em sub-temas. Por exemplo, o conteúdo Lógica do Jogo, que se subdivide nos temas aplicação e abordagem da Lógica do Jogo formal, já se encerra neste desdobramento. Deste modo, alguns conteúdos e temas não serão identificados no presente texto.

O tema Relação com a Bola, derivado do conteúdo Competências Essenciais, subdivide-se em: 

  • Vivência de todos os fundamentos técnicos do futebol;
  • Utilização de membro não dominante;
  • Descentrar-se da bola ofensivamente;
  • Descentrar-se da bola defensivamente. 

Para o tema Estruturação do Espaço, que também é derivado do mesmo conteúdo, os sub-temas são os seguintes: 

  • Estruturação racional do espaço em diferentes tamanhos de campo (⅛, ¼,½, campo todo etc);
  • Estruturação do espaço ofensivo;
  • Estruturação do espaço defensivo;
  • Estruturação de acordo com Referências do Jogo (alvo, bola, adversário, companheiro e região). 

Já o tema Comunicação na Ação, último que deriva das Competências Essenciais, compreende os sub-temas: 

  • Tomada de decisão;
  • Antecipação da ação;
  • Na ação ofensiva, todos participam;
  • Na ação defensiva, todos participam;
  • Nas transições, todos participam. 

O próximo tema se refere às Plataformas de Jogo, que compõem o Conteúdo Referências do Jogo de Futebol. Os sub-temas das Plataformas são: 

  • As plataformas de jogo básicas (1-4-4-2 – quadrado; 1-3-5-2 e 1-4-3-3);
  • Variações das plataformas de jogo;
  • Utilização da plataforma de jogo em Jogos Conceituais e Conceituais em Ambiente específico. 

Do tema seguinte, denominado Referências Operacionais, desdobram-se os sub-temas: 

  • Referências Operacionais de Ataque – manutenção da posse de bola, progressão ao alvo e ataque ao alvo;
  • Referencias Operacionais de Defesa – proteção do alvo, impedir progressão ao alvo e recuperação da posse de bola;
  • Referências Operacionais de Transição Ofensiva – manutenção da posse na zona de recuperação, retirada horizontal da zona de recuperação e retirada vertical da zona de recuperação;
  • Referências Operacionais de Transição Defensiva – recuperação imediata da posse de bola e recuperação a partir de outras referências do jogo. 

O terceiro e penúltimo tema deste conteúdo são as Referências Espaciais que se subdividem em: 

  • As linhas do campo – Linhas 1,2,3,4 e 5;
  • As faixas do campo – laterais e central;
  • As zonas de risco – altíssimo, alto, médio e baixo risco. 

E, o último tema, classificado como Referências Atitudinais, apresenta os sub-temas abaixo: 

  • Referências Atitudinais a partir do adversário;
  • Referências Atitudinais a partir da própria equipe. 

Dentro de poucas semanas, será dada continuidade na apresentação dos sub-temas restantes, derivados do conteúdo Estratégico-Tático do Jogo. A separação foi feita devido à extensão de cada um deles e à reflexão que se pretende dos sub-temas já apresentados.

Em relação às reflexões, comece a perceber as inter-relações existentes entre cada grande conteúdo e as implicações que as mesmas geram em sua sessão de treinamento.

Exemplificando, pensar um jogo que estimule a Referência Operacional Ofensiva de manutenção da posse de bola significa que algumas habilidades da equipe oriundas de outros conteúdos serão necessárias para que a esperada posse aconteça. Dentre as habilidades esperadas, pode-se mencionar uma boa Relação com a Bola no fundamento passe, uma eficaz descentralização ofensiva, uma boa estruturação de espaço ofensivo no tamanho do campo em questão (posicionar bem em 40m x 20m não significa posicionar bem em 100m x 70m) e até nas regras de ação a serem executadas de acordo com a função exercida na plataforma de jogo utilizada.

Outra reflexão se refere a determinados sub-temas que nunca serão o único macro-objetivo de uma atividade. Por exemplo, não se criará um jogo em que a única preocupação será com o sub-tema tomada de decisão.

Sabemos que decisões são tomadas a todo o momento (acertadas ou não), por todos os jogadores, em cada um dos quatro Momentos do Jogo e em cada emergência que ocorre no Jogo. Melhorar a tomada de decisão só ganha significado se alinhada ao aperfeiçoamento de novos comportamentos da equipe em relação a habilidades como: setores de recuperação da posse de bola, ação técnica e operacional principal de transição ofensiva ou quaisquer outros conteúdos e suas derivações que se pretenda trabalhar.

E, para o que se pretende trabalhar, o seguinte questionamento é fundamental:

Em que nível sua equipe se encontra e qual nível se espera alcançar?

Esteja seguro que ter a resposta mais assertiva possível para este questionamento e dominar o modo mais eficaz de evoluir o jogar de uma equipe te aproximará (mas não te garantirá) das vitórias, afinal, o desempenho no futebol é multifatorial.

Já começou as reflexões? Para aperfeiçoar a Relação com a Bola da equipe no fundamento cabeceio defensivo, de quais habilidades ela precisa?

O Currículo de Formação do Atleta de Futebol – Parte II

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A definição de oito grandes conteúdos, visando a excelência do processo de formação

Há algumas semanas, foi proposta, aos profissionais das categorias de base, a iniciativa sobre o desenvolvimento do Currículo de Formação do Atleta de Futebol. Este material deve ser elaborado com o devido alinhamento à cultura e objetivos do clube e sua aplicação é pré-requisito para o desenvolvimento de um bom processo de formação diante das tendências do mercado.

Dias após a publicação da coluna, uma entrevista com Thiago Duarte foi postada na Universidade e, dentre os temas discutidos, estava o D.O.M (Documento Orientador Metodológico). Thiago, coordenador técnico das categorias de base do Grêmio-RS, é o responsável pela elaboração do material que tem como objetivo formar atletas de futebol, a partir da filosofia e cultura do clube, caracterizando o “Jogar ao Grêmio”.

Um grande clube do futebol brasileiro já é um ótimo exemplo por conter profissionais que estão se preparando e agindo diante do novo cenário futebolístico que se desenha. Os concorrentes (outros grandes clubes, times de menor expressão com tradição em categorias de base e clubes formadores emergentes) que não se adequarem a esta nova realidade correm sérios riscos de realizarem investimentos sem retorno e sustentabilidade no médio e longo prazo.

Ciente deste cenário e respeitando as limitações estruturais, financeiras, de recursos humanos, outrora comentados, a diretoria do Paulínia FC selecionou cinco profissionais, no ano de 2009, para o desenvolvimento do material denominado Metodologia Futebol Arte. Nele deveriam constar os conteúdos e temas relativos ao processo de formação do sub-11 ao sub-20.

Além de apontar os oito grandes conteúdos que compreendem o processo de formação, o objetivo da coluna desta semana é padronizar algumas linguagens que serão utilizadas em colunas futuras.

Antes de apresentá-los, porém, é necessária a divulgação do nome dos outros quatro profissionais que contribuíram na elaboração do referido material: Anderson Gôngora, Cristian Lizana, Erick Martins e Lucas Leonardo. Este último coordenou a produção, porém, atualmente não trabalha mais com futebol.

O tempo de início e conclusão do Currículo foi de seis meses, sendo feitas três a quatro reuniões semanais de duas horas cada, com saudáveis (mas nem sempre amistosas) discussões baseadas em diversos autores que discorrem sobre o ensino dos JDC, complexidade, teoria dos jogos, além das opiniões e experiências dos integrantes do grupo e, eventualmente, dos demais profissionais do clube.

O primeiro conteúdo é a Lógica do Jogo, que norteia todo o Processo de Formação e que se subdivide nos seguintes temas: 

  • Abordar a Lógica do Jogo Formal;
  • Aplicar a Lógica do Jogo Formal. 

O segundo conteúdo compreende as Competências Essenciais do Jogo. Tais competências se manifestam em quaisquer jogos coletivos e quanto melhor a sua manifestação, melhor será o nível de jogo realizado.  Subdivide-se em: 

  • Relação com a bola;
  • Estruturação do espaço;
  • Comunicação na ação (Leitura de Jogo). 

As Referências do Jogo de Futebol fazem parte do terceiro conteúdo. Dominar as referências, de forma circunscrita ao jogo, contribui para a orientação de novas formas de cumprir a Lógica do Jogo. Este conteúdo contém como temas: 

  • Plataformas de Jogo;
  • Referências Operacionais;
  • Referências Espaciais;
  • Referências Atitudinais. 

O quarto conteúdo é composto pelo nível Estratégico-Tático do Jogo. A componente estratégica oferece aplicações pré-definidas pelo Modelo de Jogo e a componente tática, pelas emergências (problemas) do jogo e apresentam os temas abaixo: 

  • Estratégias ofensivas;
  • Estratégias defensivas;
  • Reposições de bola;
  • Bolas Paradas;
  • Meios Táticos. 

O conteúdo seguinte é relativo às Funções no Jogo e apresenta como temas: 

  • Jogar em uma Posição;
  • Cumprir outras Regras de Ação;
  • Jogar em mais de uma Posição. 

O sexto conteúdo denomina-se Relação com Companheiros e é desenvolvido em função da capacidade de jogo dos praticantes e tem como subdivisão os seguintes temas: 

  • Jogar em pequenos grupos (até 3 jogadores);
  • Jogar em médios grupos (de 4 a 7 jogadores);
  • Jogar em grandes grupos (mais de 8 jogadores). 

Fisiologia e Saúde fazem parte do penúltimo conteúdo, que inclui: 

  • Conhecimento dos grupos musculares;
  • Consciência corporal;
  • Vivência em academia;
  • Exercícios profiláticos. 

O oitavo conteúdo é denominado Apoio Didático e é composto pelas atividades complementares extra-campo, de caráter técnico, para contribuição no processo de ensino-aprendizagem. Apresenta como temas: 

  • Palestras do Modelo de Jogo;
  • Palestras de jogos profissionais;
  • Palestras de jogos da própria equipe;
  • Palestras de jogos do adversário. 

Para todos estes temas (em outras colunas virão os sub-temas), estabeleceram-se “pesos” subjetivos, de 0 a 5, que foram distribuídos, para aplicação no processo de treinamento, entre todas as categorias do clube. Quanto maior o “peso”, maior a importância da aprendizagem do tema. Para alguns temas, a letra “X” substitui a presença do número indicando que determinado conteúdo já foi aprendido pela categoria. O número zero indica que determinado tema não deverá ser abordado.

Ainda sobre a interpretação do currículo, outro ponto é de fundamental importância e se refere às dimensões do aprendizado. Para isto, os termos “conhecer, vivenciar e aprender” correspondem aos primeiros contatos com cada tema e a abordagem do treinador deverá ser constante para assimilação dos objetivos propostos nas atividades. Realizado o contato inicial, a “aplicação” e “aperfeiçoamento” deverão ser observados para excelência e acomodação do aprendizado, inclusive quando determinado tema não for o objetivo específico da atividade. E, por último, “dominar” o tema com a maior competência possível na sua execução.

Para finalizar, é válido salientar que o Currículo do Paulínia FC não é um documento fechado, pronto e que não receberá alterações. É apenas um material de desenvolvimento de um processo de formação que, com exceção do sétimo conteúdo, Fisiologia e Saúde, utiliza o Jogo como método de ensino. Sua aplicabilidade (lembrando que tem somente um ano e meio de existência) está sendo observada para que adequações sejam feitas e possíveis equívocos, sanados. Outra consideração, refere-se às limitações de toda a gestão que refletem com maior ou menor magnitude no trabalho de campo.

No entanto, não é possível aguardar o “mundo ideal” para serem dados os primeiros passos de uma longa e trabalhosa caminhada. Caminhada, em que muitas questões, acertos e erros serão discutidos com profissionais do futebol dispostos a compartilhar conhecimento.

Até a próxima semana!

Written by Eduardo Barros

12 de junho de 2011 at 10:25

O Currículo de Formação do Atleta de Futebol – Parte I

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Desenvolver conteúdos de aprendizagem, do sub-11 ao sub-20, é função dos profissionais das Categorias de Base do futebol brasileiro

O nosso futebol passa por um gradativo processo de profissionalização. As mudanças na Lei Pelé, que privilegiam o clube-formador, como por exemplo, o direito da verba de solidariedade inclusive para transferências nacionais, são indicativos de que a formação do atleta brasileiro está sendo redimensionada e que a devida importância lhe está sendo conferida.

É certo, também, que os futuros craques do Brasil, em 5, 7, 10, 12 anos, hoje estão nas categorias de base dos milhares de clubes existentes no país e que será insignificante a quantidade de atletas que sairão direto dos campos de várzea para o alto nível profissional.

Sob este viés, a gestão integrada da base será pré-requisito para que, após os 8 a 10 anos de processo de formação de uma determinada categoria, a quantidade de atletas de alta performance seja satisfatória. Além disso, a comunicação entre todas as comissões técnicas dos clubes deverão ser constantes no que tange a definição dos pontos fortes e fracos de cada atleta e equipe ao longo dos anos, para nortear as decisões estratégicas, técnicas e administrativas da empresa.

O grande diferencial do trabalho de campo diante desta nova perspectiva deve ser o desenvolvimento, por parte de cada clube de base, do Currículo de Formação do Atleta de Futebol. Nele, cada instituição pode definir os perfis dos atletas que pretendem formar e quais serão os conteúdos ensinados para que os diferentes perfis sejam alcançados.

Entretanto, conforme foi citado anteriormente, a profissionalização do futebol brasileiro é gradativa, logo, a gestão integrada da base, que é fundamental para modificações sensíveis nos corpos técnicos de cada clube (com profissionais competentes e capacitados continuamente), ainda é considerada utópica.

Então, se a grande parcela dos gestores não está preparada para o “novo” futebol, qual é o papel de cada profissional inserido (ou que pretende se inserir) no mercado em quaisquer clubes, nas categorias de base, dentre os milhares existentes no Brasil?

O papel de cada um desses profissionais é buscar a elaboração e aplicação de um Currículo do Atleta. Assim como todo curso profissionalizante, graduação, ensino técnico, médio, supletivo, entre outros, existem conteúdos (disciplinas) que cada atleta deve aprender (de maneira circunscrita ao jogo) para se tornar um grande jogador de futebol.

Além da falta de conhecimento técnico da gestão, outros fatores já conhecidos por quem vive o “ambiente do futebol” podem ser apontados como limitantes para a elaboração do referido material. São eles: 

  • Falta de comunicação intra comissão técnica, em que predominam preocupações com os fragmentos do jogo em relação ao “todo” equipe (e jogo);
  • Falta de comunicação inter comissões técnicas, em que o treinador do sub-15 pouco se importa com o que está acontecendo no sub-17, nunca assistiu a um jogo do sub-14 e, talvez, nem saiba o nome do técnico do sub-11;
  • Ausência de um ambiente de discussões e aprendizagem oferecido pelo Clube;
  • Futebol profissional desvinculado das categorias de base, onde os treinadores e dirigentes do Depto. Profissional optam por negociações intermediadas por agentes em detrimento dos atletas formados no Clube.
  • Lacunas nas idades do processo de formação com manutenção somente das categorias com competições oficiais;
  • A pressão por vitórias a qualquer custo como “garantia” de permanência no cargo; 

Neste cenário não muito animador, para muitos, “sobreviver” é o grande objetivo. E, seguramente, a sobrevivência não está garantida. Você pode ganhar todos os jogos e a diretoria, de uma hora para outra, ser modificada e você, demitido. Os patrocinadores que financiavam os custos da categoria de base podem abandonar o clube e você, por conseqüência, perder o emprego. Você pode ser preparador físico do sub-15 e, de repente, receber um convite para integrar a comissão sub-20 que durará somente enquanto houver vitórias. Porém, neste mesmo cenário instável, oportunidades positivas tendem a surgir.

Como, por exemplo, chegar ao clube em que você trabalha um gestor com conhecimento técnico suficiente (acredite que eles já existem!) para saber como um plano coerente de trabalho de formação a médio/longo prazo traz resultados (lucro) e sustentabilidade ao negócio. Este gestor precisará de pessoas que ponham em prática tal plano de trabalho.

Cresce o número de profissionais do futebol que acreditam que a categoria de base é a grande responsável pelo nosso futuro no cenário futebolístico mundial. Você pode trabalhar ao lado de um destes e não ter ciência justamente por fazer somente a sua função de sobrevivência. Um dirigente (quem sabe um dia algum head-hunter) pode procurá-lo para fazer-lhe uma proposta de trabalho por conhecer e acreditar no seu potencial profissional.

Nesta área de atuação, profissionais de destaque do mercado (salvo aqueles que dependem exclusivamente de indicação, amizade ou qualquer outra relação que, lembre-se, faz parte do cenário) devem saber tudo sobre a base, do sub-11 ao sub-20. Devem ter bem definidas quais são as competências necessárias para um jovem, captado do processo de iniciação esportiva e inserido nos processos de transição e especialização, se tornar atleta profissional.

Os primeiros passos são muito simples de serem executados. Uma reunião com sua comissão técnica pode se tornar uma hora de discussão semanal que tem como temática a formação do atleta. Num e-mail para os funcionários da base do clube pode constar um convite para a divulgação da ideia, pois com certeza algumas pessoas têm com o que contribuir. Uma conversa informal com um dos dirigentes do clube pode ser um ótimo momento para demonstrar sua opinião.

Se com estes passos você permanecer sozinho, mesmo assim avance em sua caminhada. Se mais pessoas aderirem à ideia, há um longo trabalho pela frente.

Como início, a definição de todos os conteúdos que um jogador (e equipe) precisa aprender (é bom lembrar que de forma circunscrita ao jogo) para se tornar atleta de alto nível. Marcação zonal, transição ofensiva, relação com a bola, pressing, ultrapassagem, zonas de risco, estratégias, tomada de decisão, lógica do jogo, plataformas, bolas paradas, regras de ação, são simples exemplos para ilustrar a infinidade de conhecimento que, indubitavelmente, precisa ser internalizado.

Após esta trabalhosa, porém, prazerosa definição, diversas reflexões surgirão, dentre elas: 

  • Qual a plataforma de jogo ideal para iniciar um processo de formação?
  • Deve-se sempre utilizá-la durante todas as categorias?
  • O zagueiro do sub-11 fará sempre a função de zagueiro ao longo da formação?
  • Como classificar os diferentes tipos de jogos elaborados?
  • Quando iniciar a aplicação da ultrapassagem?
  • Quando iniciar a aplicação do pressing?
  • Como definir qual linha de referência de marcação utilizar? 

Não bastará definir os conteúdos! Saber distribuí-los em cada categoria, para assegurar que eles se encontram na zona de desenvolvimento proximal dos jogadores de determinada equipe e faixa etária, será fundamental para evitar equívocos.

O que você está esperando? Faça sua parte para que a transformação da base, impulsionada pelas tendências do mercado (Lei Pelé, conhecimento científico, esporte como negócio), beneficie aos clubes, atletas e profissionais do futebol.

Para aqueles que acham que tudo isso é bobagem e que não há o que (re)inventar nas categorias de base no Brasil: cuidado, pois a transformação é inevitável! E, para os que utilizam a famosa expressão “o Futebol é assim”, ele (o futebol) não é! Já as pessoas… 

PS: O Currículo do Paulínia FC, criado mesmo com uma série de limitações (estruturais, administrativas, financeiras, entre outras), tem um ano e meio de existência e será tema de outra coluna.

Written by Eduardo Barros

15 de maio de 2011 at 11:15

Entrevista publicada no site Olheiros.net

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Em outra oportunidade, mencionei que eventualmente faria publicações distintas das realizadas no Portal Universidade do Futebol®.

Hoje, postarei uma entrevista feita com o jornalista Lincoln Chaves, para o site olheiros.net, publicada no dia 27/04/2011. Excepcionalmente, a coluna semanal será inserida no blog na próxima quarta-feira.

“O resultado é apenas um componente da formação”

Em 2009, o Paulínia foi uma das surpresas da base paulista, especialmente entre os sub-17, vice-campeões estaduais. No mesmo ano, o sub-15 ficou em quinto no Paulista. No ano anterior, o time já conquistara o sub-17 da Associação Paulista de Futebol (APF), e em 2010, ergueu o primeiro caneco na Federação Paulista de Futebol (FPF) – o da 2ª divisão Sub-20. Além de alcançar o acesso para a Série A3, com a base sub-23 exigida na Segundona. Resultados que colocaram o clube da região de Campinas como uma das potências emergentes do futebol de base em São Paulo.

É do Paulínia que provêm Eduardo Barros, ex-treinador das categorias sub-11 e sub-13 e hoje adjunto no time sub-17. Formado em Educação Física, é pós-graduado em Administração de Empresas, além de também fazer parte do Departamento de Pedagogia do clube, no qual foi um dos responsáveis pela criação do chamado Currículo de Formação do Atleta. Material que, conforme o próprio, “é produzido internamente e baseado em diversos autores e literaturas que apontam para as tendências do ensino do desporto coletivo e nas experiências práticas dos profissionais”.

No começo do ano, Barros escreveu um artigo no site Universidade do Futebol, portal especializado em conteúdos científicos acerca do desporto bretão, intitulado Conquistando resultados nas categorias de base: muito além das vitórias entre as quatro linhas. Nele, abordava a constante discussão acerca da conquista de títulos e a formação de atletas, enumerando, ainda, pontos (“variáveis passíveis de intervenções na base”), que considera determinantes para que o clube atinja “lucro e sustentabilidade” no segmento.

Em conversa com o Olheiros, Barros, que chegou a jogar pela base da Ponte Preta, discutiu a relação base-títulos, mas abordou também o desafio para equipes que lidam quase que especificamente com a formação em “competir” por jovens promessas com os grandes, além das diferenças e necessidades nos trabalhos de treinadores “boleiros” e “acadêmicos” nas categorias de base. E não se furtou a colocar o projeto de formação do Paulínia entre clubes que julga terem os principais trabalhos no Brasil, como Santos, Grêmio, Internacional, São Paulo e Atlético-MG.

Olheiros – No seu texto publicado no Universidade do Futebol, você se coloca como um dos questionadores à uma mentalidade frequente em muitos clubes na base, sobre o ganhar acima do revelar. O que incentiva a manutenção deste pensamento, tanto por parte dos profissionais como de dirigentes?

Eduardo Barros – A origem deste pensamento, em minha opinião, deve-se ao fato dos gestores dos clubes pensarem que um bom trabalho está sendo realizado exclusivamente se as vitórias e títulos acontecerem. Compreendo essa visão no futebol profissional, onde a formação do atleta já aconteceu e a máxima performance da equipe deve ser atingida a todo instante, mas não nas categorias de base, onde o imediatismo da análise dos resultados de campo é somente uma variável das diversas possíveis de serem observadas em atletas inseridos em um processo de formação. Quanto à manutenção deste pensamento a resposta é simples: as vitórias e títulos, mesmo que a qualquer custo, são umas das poucas garantias de emprego da grande maioria dos profissionais de base do futebol brasileiro.

Olheiros – Qual o real peso do título dentro de uma avaliação do rendimento de determinada categoria de base?

Eduardo Barros – Quanto mais velha a categoria, maior o peso do título conquistado. É inegável que o título aumenta a visibilidade dos atletas e agrega valor aos mesmos. No entanto, para mensurar o real peso da conquista nas categorias menores, deve-se considerar quantos atletas da equipe campeã tem perfil de negociação ou então de promoção à categoria profissional em médio prazo. Se o número encontrado for suficiente para o clube, o peso real do título é significativo. Já nas categorias maiores, os títulos devem estar aliados a promoções imediatas ao profissional, com o intuito de divulgação do produto “prata da casa”, ou então, a negociações em curto prazo, visando o retorno financeiro do investimento realizado nessa categoria ao longo dos anos.

Olheiros – Mas mesmo o trabalho focado principalmente na formação pode, naturalmente, acabar revertendo títulos.

Eduardo Barros – Sem dúvida! Acredito que um processo de formação adequado, que leva todos os atletas de uma determinada categoria a picos de desempenho tático, técnico, físico e emocional, consequentemente é traduzido em títulos.

Olheiros – Quais as dificuldades que uma equipe como Paulínia, ou times como Olé Brasil, Primeira Camisa, etc., encontram para captar e manter os atletas de destaque, ante “rivais” como São Paulo, Santos, Grêmio ou Inter?

Eduardo Barros – A maior dificuldade que vejo, e vem diminuindo com o respeito que estamos adquirindo na categoria de base, refere-se a “luta desleal” de valor simbólico. Muitos atletas com potencial que chegam ao clube, com 10, 11, 12 ou 13 anos, já passaram por seletivas, peneiras ou até fizeram parte do elenco de grandes clubes do futebol paulista, ou então, saíram do Paulínia mediante convites de agentes ou clubes de maior expressão. Mas o que tenho observado com certa frequência, é o retorno de atletas e pais que, após o insucesso nos clubes grandes, tentam reingressar no Paulínia. E outra dificuldade são as limitações financeiras que impedem que o clube ofereça tudo o que gostaria aos seus atletas, como ajuda de custo, chuteiras, suplementação para todos atletas e jantar pós-treino.

Olheiros – Desta forma, o que hoje se mostra como crucial pra que um clube como esses possa se mostrar como uma boa opção ao garoto, e ele, ou seus pais, possam optar em ir ao Paulínia, e não ao, por exemplo, São Paulo?

Eduardo Barros – Na minha visão, a análise inicial deve ser em relação a contra qual clube será a “luta”. Alguns deles, tradicionalmente, não revelam jogadores. Esta é a primeira informação a ser passada aos pais do atleta e ao próprio garoto que despertou interesse ou foi aliciado por um clube grande. Se o clube, tradicionalmente, ou então, ultimamente, tem revelado jogadores, ainda temos algumas questões para passarmos à família. A primeira, em relação ao nosso trabalho de campo, que difere da grande maioria dos clubes brasileiros. A segunda, relacionada à concorrência que o atleta terá no clube em questão e a facilidade de ser dispensado e/ou trocado por outro.

Olheiros – E faz diferença? Mesmo mostrando que, historicamente, por exemplo, um Palmeiras não é um formador tradicional, há uma boa probabilidade, por exemplos que vocês já tenham vivenciado, da família optar pelo clube “menor” em detrimento ao “maior”?

Eduardo Barros – Recentemente, como você mesmo mencionou, obtivemos o vice-campeonato Paulista Sub-17. Dois atletas receberam convite do Wagner Ribeiro, com a promessa de negociação para o Palmeiras e outros dois para outros clubes do Brasil. A diretoria do Paulínia alertou pais e atletas dos que foram aliciados pelo Wagner Ribeiro, porém, não deu certo. A negociação (por empréstimo) ocorreu. Um dos atletas foi vice-artilheiro do Paulista Sub-17 daquele ano, se não me engano com 18 gols. No Palmeiras, em um ano, ele pouco jogou e não foi convocado nem para a Copa São Paulo deste ano. Dois atletas de destaque daquela equipe Juvenil permaneceram no clube e mesmo com alguns convites, foram peças fundamentais no acesso à série A3 e hoje estão nas equipes sub-23 de Botafogo e Fluminense, com negociações diretas com o clube e não via Wagner Ribeiro. Mas é bom lembrar que nesses casos, a maioria dos atletas está profissionalizada. Então o clube está, de certa forma, “blindado”. Para atletas abaixo de 16 anos, que temos que manter o contato com os pais, é mostrar a importância da família para a formação integral do indivíduo e, que, em médio prazo (no momento adequado) o clube irá negociar o atleta.

Olheiros – Identificado, então, contra quem se “luta” e dialogado com a família, o que mais pesa? Já há uma espécie de “consenso” no tocante à estrutura ideal, alguma que não fique atrás do que oferecem os grandes? Ou isso não pesa tanto nessa “luta”?

Eduardo Barros – A estrutura dos clubes pesa significativamente nas escolhas dos pais e atletas. O difícil é convencer os pais que treinar num campo lindo, com um uniforme impecável, fazendo todas as refeições no clube e ter uma ajuda de custo não significam boa formação. Muito mais do que estrutura física, os clubes precisam de capacitação profissional. É neste ponto que estamos à frente.

Olheiros – Observa-se cada vez que os treinadores da base contam com diferentes perfis. Há profissionais mais acadêmicos e outros que são ex-jogadores e apostam na experiência de campo e em seus olhares para o trabalho. Qual desses é o treinador “ideal”? Depende da categoria? Ou a mescla de ambos é importante?

Eduardo Barros – Eu diria que experiência acadêmica e a vivência prática são apenas duas das inúmeras competências que o treinador “ideal” deve desenvolver. Para aquele que não jogou, estágios, perguntas, networking, visitas à clubes, análise de muitos jogos e entrevista com jogadores, podem lhe capacitar em relação à falta de vivência prática. Para aquele que só jogou, entender que o futebol moderno está muito dinâmico, sistêmico e que a capacitação teórica é fundamental para sustentar a sua prática pode torná-lo um treinador mais completo. Independentemente da categoria, as competências do treinador “ideal” não se modificarão, porém, uma ressalva: quanto mais velha a categoria, maior a pressão exercida sob o treinador.

Olheiros – O interior paulista sempre foi um enorme celeiro de craques, mas o cenário hoje é diferente, com a ascensão de clubes como Paulínia, Desportivo Brasil, Olé Brasil ou Primeira Camisa, e derrocada de antigos potenciais formadores, como Rio Branco, XV de Piracicaba e Inter de Limeira, por exemplo. O que explica isso?

Eduardo Barros – Penso que clubes como Rio Branco, XV de Piracicaba e Inter de Limeira, não acompanharam a transição do futebol-empresa, em que, após o final do ano as contas devem fechar com saldo positivo, ou então, a tendência é a falência. O formato das categorias de base da grande maioria dos clubes que estão em derrocada é falho. Muitas agremiações iniciam seus trabalhos de formação somente a partir do sub-15 e na captação dos atletas para a composição da equipe ocorrem problemas. Um deles é a captação de atletas de “segunda linha”, afinal, com essa idade, atletas potenciais já foram captados por grandes clubes do futebol brasileiro. Outro é o excesso de atletas alojados, o que eleva consideravelmente o custo operacional da categoria. Há também o desconhecimento ou a inexistência de trabalho desenvolvido em escolinhas da cidade, que, em médio prazo, poderia compor equipes-base em anos posteriores. Isso, somado às trocas constantes de dirigentes e comissões técnicas, departamentos de base muitas vezes desvinculados do futebol profissional e interesses individuais diversos, sobrepondo os interesses da instituição, explicam a decadência de clubes tradicionais no cenário atual do mercado futebolístico.

Olheiros – Na sua visão, quem hoje tem o melhor trabalho de base do Brasil?

Eduardo Barros – Para responder essa pergunta eu teria que ter conhecimento de informações financeiras de todos os clubes que possuem categorias de base no país. Se, num período de 10 anos (tempo suficiente para formar e revelar atletas do sub-11 ao Profissional), o retorno financeiro obtido de atletas oriundos das categorias de base for significativamente superior ao custo operacional, o trabalho de base foi bem desenvolvido. Contudo, com as informações que tenho atualmente, adquiridas com leituras, viagens, contatos, confrontos diretos, mídias, entre outras experiências, e considerando questões técnicas, profissionais ou de infraestrutura, aponto mais de uma equipe. Dentre elas, o São Paulo, que tem Cotia, uma boa gestão da base e (Paulo César) Carpegiani disposto a lançar atletas novos. O Santos, que chegou nas finais em quase todas categorias no ano passado no Estado e há anos revela talentos. O Internacional, pelo título do Brasileiro Sub-23, o sucesso na Copa Nike 2010, entre outras conquistas que as levaram ao topo do Ranking Olheiros. O Grêmio, que tem profissionais de destaque no mercado. O Atlético-MG, que conta com uma infraestrutura invejável. Também o Pão de Açúcar, que possui uma boa gestão e um ótimo trabalho de formação. E acho que não posso deixar de incluir o Paulínia, que mesmo sem alojamento, forma equipes competitivas em todas as competições que disputa.

Written by Eduardo Barros

1 de maio de 2011 at 13:13

Por que tantas críticas?

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Há cerca de duas semanas acontece o Sul-Americano sub-17, no Equador. Neste período, houve tempo suficiente para a imprensa não poupar críticas a seleção brasileira, aos jogadores, ao futebol apresentado, ao trabalho do treinador Emerson Ávila e até ao Sistema de Jogo utilizado.

Classificada para o Hexagonal final com 3 vitórias, diante de Venezuela, Chile e Colômbia e somente uma derrota, diante do Paraguai, o presente texto não se prenderá ao desempenho apresentado pelo Brasil e nem ao comportamento da equipe nos diferentes Momentos do Jogo. O objetivo será, ao contrário da grande maioria dos veículos de comunicação, defender a seleção, o projeto que se iniciou recentemente e a importância de uma análise além do resultado imediato.

A nossa seleção principal, nas duas últimas Copas do Mundo, não agradou a nenhum dos brasileiros. As eliminações precoces nas quartas de final, em 2006 para a França e em 2010 para a Holanda, deixaram a certeza que renovações seriam necessárias para a manutenção da hegemonia de títulos.

A renovação pós-Copa 2006 gerou a substituição do treinador Carlos Alberto Parreira pelo ex-jogador Dunga, símbolo da seleção no tetra-campeonato em 1994.

Ao contrário de Parreira, conhecido por todos como um grande estudioso da modalidade, Dunga assumiu a seleção graças ao bom relacionamento com a CBF e, auxiliado por Jorginho, tinha a missão de levar o país à conquista do sexto mundial.

O resultado da renovação, mensurado no torneio de seleções disputado na África do Sul, foi decepcionante. Um país com potencial para apresentar um futebol dinâmico, imprevisível, veloz e de desempenho superior, demonstrou sérias dificuldades para transpor as barreiras defensivas dos oponentes e sucumbiu diante da seleção holandesa, que ao virar o placar viu (juntamente com todos os torcedores brasileiros) os jogadores da seleção brasileira perderem a identidade e buscarem o empate a qualquer custo com comportamentos de jogo até então não observados.

Após a eliminação, nova mudança. O convite para o comando do Brasil é feito a Muricy Ramalho que permanece no Fluminense-RJ para o cumprimento do contrato. Oportunidade para Mano Menezes, que ao longo de 14 anos como treinador de futebol profissional (iniciou a carreira no Guarani-RS, passou também por XV de Novembro, Grêmio e Corinthians), chegou à seleção respaldado por formação de bons elencos, conhecimento teórico, acessos, bom futebol e títulos.

Ainda estão sendo dados os primeiros passos dessa renovação, afinal, são apenas 6 meses de trabalho. É pouco tempo (o que dirá 2 semanas!) para afirmar que os passos seguirão, ou não, o melhor caminho.

O que já se pode afirmar é que os dois treinadores anteriores não tinham a visão (ou ao menos não demonstravam publicamente) da importância da integração entre as Comissões Técnicas das seleções de base juntamente com o profissional para a obtenção de bons resultados em médio prazo.

Marquinhos Santos (sub-15), Emerson Ávila (sub-17), Ney Franco (sub-20) e Mano Menezes já se pronunciaram em relação à formação de atletas e equipes da base que cheguem à seleção principal com total conhecimento da filosofia de jogo de Mano Menezes, o perfil de atleta desejado, que tenham gradativa evolução ano após ano e, consequentemente, o bom resultado de campo.

A seleção brasileira continuará com dezenas de jogadores muito habilidosos, acima da média de todos os demais países, capazes de definir uma partida numa jogada individual. No entanto, o trabalho integrado aponta para um grande desenvolvimento de um projeto organizado, profissional, que privilegia o coletivo e que dentro de poucos anos pode refletir uma sensível melhora no nível de jogo apresentado pelo Brasil.

Posto isso, dizer que o futebol apresentado pela seleção brasileira sub-17 está limitado, que a plataforma de jogo 1x4x2x3x1 não dá certo para esse elenco, que Lucas Piazon está com a cabeça no Chelsea, o jovem Andrigo está rendendo menos do que o esperado, que os reservas são melhores que os titulares e que Emerson Ávila não tem se mostrado um bom treinador, não faz sentido, pois todas essas análises consideram exclusivamente os resultados de campo obtidos nos quatro primeiros jogos da primeira fase do Sul-Americano.

Como mencionei, é pouco tempo para muitas críticas. Andrigo, com apenas 15 anos está sendo criticado por jogar fora da posição que joga no Inter. Se, com 16 anos, ele não aprender (ou ao menos tentar) fazer isso, quando fará? No profissional, após estar formado? Seguramente, não!

Lucas Piazon não está com a cabeça no Chelsea! Somente está sendo negociado por todo o potencial que apresenta. E este é um dos objetivos das Categorias de Base de um clube. E caso ele esteja com a cabeça na equipe inglesa, é absolutamente compreensível, afinal, tem somente 17 anos e está envolvido em uma negociação que, segundo informações, girou em torno de R$ 12 milhões.

Emerson Ávila ainda faz suas primeiras partidas no comando do Brasil, é muito precoce qualquer observação sobre seu exercício da liderança, o Modelo de Jogo da equipe, o desempenho estratégico em diferentes situações-problema, o resultado nas competições, ou seja, qualquer julgamento será um grande equívoco.

Finalizando, gostaria que as análises feitas pela mídia fossem imparciais, mas sei que é algo improvável. O título do Sul-americano sub-17 pode acontecer e, rapidamente, como todas as coisas no dinâmico mundo atual, as críticas serão esquecidas. Que o 1º lugar venha, para confirmar o início de um bom trabalho que aparenta estar sendo realizado. Se ele não vier, que a CBF, Mano Menezes, Ney Franco e os demais treinadores e profissionais envolvidos continuem acreditando neste projeto de formação para a seleção brasileira.

Sobre a Copa de 2014, talvez ainda não dê tempo de vermos o resultado (título) esperado. No entanto, poderemos claramente observar uma evolução no nível de jogo apresentado. Será uma grande confirmação de que os passos, iniciados em 2010, seguiam pelo melhor caminho.

Written by Eduardo Barros

27 de março de 2011 at 16:40

Conquistando resultados nas Categorias de Base: muito além das vitórias entre as quatro linhas*

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Tanto para os gestores, quanto para quaisquer membros das comissões técnicas, encontrar as melhores respostas é a chave para o lucro e a sustentabilidade

Inicia-se o ano de 2011, momento oportuno para as empresas analisarem os resultados obtidos em 2010. Cada área funcional de uma organização (Recursos Humanos, Projetos, Finanças, Marketing e Operações) deve analisar sua contribuição para aplicação do planejamento estratégico da Empresa e mostrar os resultados obtidos no ano anterior.

No Futebol Moderno, em que cada vez mais se preconiza a gestão de um Clube como qualquer empresa inserida no mundo capitalista, onde o lucro e a sustentabilidade são fundamentais, a análise de inúmeras variáveis faz-se necessária para se obter a posição atual do Clube no mercado e definir quais serão os planos de ação seguintes para a posição que se deseja alcançar.

No meio corporativo, para a área de Recursos Humanos, uma das variáveis analisadas pode ser a quantidade de contratações de profissionais de talento da concorrência pelos Head Hunter’s (grupo de pessoas designadas à busca de profissionais de destaque no mercado) da empresa. Para a área de Projetos, uma variável interessante pode ser o desenvolvimento de um produto inovador no segmento em que a empresa atua. Para Finanças, a análise da DRE (Demonstração dos Resultados do Exercício) de 2010 permitirá a observação dos lucros acumulados e, dessa forma, possibilidade de distribuição de dividendos aos acionistas. Na área de Operações, saber se a aplicação do Lean Manufacturing (Produção Enxuta) reduziu o tempo de produção de um determinado produto, pode ser uma boa análise. E, para a área de Marketing, conhecer a exposição da marca em visibilidade espontânea sem custo (aparição da marca em TV, internet, jornais, revistas), resultante de patrocínio, pode compreender uma variável coerente de ser analisada.

Como pode ser observado, diversas são as variáveis passíveis de serem estudas por uma organização ao longo de um ano. Nos exemplos acima, com termos muito utilizados no mundo corporativo, está expressa somente uma variável, das inúmeras possíveis, de cada área funcional de uma determinada empresa. Se as pessoas que a administram agem de forma coerente, planejada, sendo eficazes nas ações que agregam valores para a empresa, a possibilidade de resultados positivos conquistados é grande, do contrário, provavelmente a empresa se verá ultrapassada pelos demais concorrentes.

Posto isso, que variáveis analisar e como mensurar os resultados obtidos por todos os gestores e pelas Comissões Técnicas das Categorias de Base de um Clube formador, a partir de uma visão empresarial?

No futebol brasileiro, uma resposta imediata afirmará que a análise dos resultados conquistados dentro do campo é suficiente. Nesta análise, soma-se três pontos nas vitórias, um ponto nos empates e zero ponto nas derrotas e, após dividir o número total de pontos obtidos pelo número total de pontos disputados, obtém-se o percentual de aproveitamento de cada Comissão Técnica. Em análises mais rígidas, o título é o único símbolo do bom resultado.

O percentual de aproveitamento e o título devem, sem dúvida alguma, ser variáveis consideradas. No entanto, nas Categorias de Base de um clube formador, é incompreensível que sejam as únicas. Nas próximas linhas, gestores, treinadores, auxiliares, preparadores ou adjuntos poderão perceber o quão amplas se apresentam as variáveis passíveis de intervenções nas Categorias de Base que, a médio e longo prazo, serão determinantes no cumprimento do que deve ser o objetivo principal de um Clube: lucro e sustentabilidade.

Quais os perfis dos atletas que chegam ao Clube?

Qual o predomínio das idades dos atletas que chegam ao Clube?

Quais os perfis desejados dos atletas que se formam no Departamento de Base do Clube? Os variados perfis se encaixam no mercado interno, externo ou Departamento Profissional?

Quantos anos são necessários para formar, por completo (Tática, Técnica, Física e Emocionalmente), um atleta?

Quantos atletas alojados existem por Categoria?

Qual o custo de cada atleta (alojado ou não) de determinada Categoria, por ano, para o Clube?

Quantos atletas de cada Categoria são necessários que passem pelo Clube durante todo o Processo de Formação (Sub 11 ao 20)?

Cada Categoria deve ser composta por quantos atletas?

Em média, quantos atletas são dispensados por ano, por Categoria? Qual foi o tempo de permanência do atleta no Clube?

Existe um relatório individual de desempenho (banco de dados), que acompanha a performance (tática, técnica, física e emocional) de cada atleta ao longo dos anos?

Quais são os atletas-destaque existentes em cada Categoria?

Os atletas-destaque nas Categorias menores, de maneira geral, são os mesmos a se destacarem nas Categorias maiores?

Existe um plano de carreira para ser apresentado aos pais e ao atleta-destaque das Categorias maiores?

Quantos atletas o Clube pretende promover das Categorias de Base ao Departamento Profissional e negociar com mercado interno e mercado externo, por ano?

Na profissionalização de um atleta, qual o percentual dos direitos econômicos relativos ao Clube? O atleta está “preso” a algum Agente?

Do elenco Profissional atual, quantos jogadores são oriundos das Categorias de Base do Clube?

O Clube apresenta um Plano Metodológico de Treinamento para utilização das Comissões Técnicas, de modo que conteúdos treinados em Categorias menores (Sub 11/13/15) não sejam repetidos desnecessariamente em Categorias maiores (Sub 17/20)?

A Comissão Técnica está atualizada em relação às novas tendências de Ensino do Futebol?

A Comissão Técnica apresentou o planejamento anual da Categoria?

O planejamento anual da Categoria condiz com a opinião do Clube em relação à Formação de Atletas?

O planejamento anual apresentado contém o Modelo de Jogo (comportamento da equipe no Jogo, nos Momentos Ofensivos, Defensivos e de Transição) pretendido pela Comissão Técnica?

O Modelo de Jogo pretendido está de acordo com a Filosofia e Cultura de Jogo do Clube?

O Modelo de Jogo pretendido favorece o cumprimento da Lógica do Jogo de Futebol?

Existe uma ferramenta de análise quantitativa de desempenho da Equipe?

Existe uma ferramenta de análise qualitativa de desempenho da Equipe?

O Modelo de Jogo alcançado, ao longo do ano, se aproxima do Modelo de Jogo pretendido?

Quais as carências de posições de cada Categoria?

A Comissão Técnica consegue suprir as carências com atletas das Categorias menores?

Existem, no mercado, atletas com condições de suprir as carências da equipe?

Quais os números de vitórias, empates e derrotas de cada Categoria em Amistosos e Competições?

Qual o Nível de Jogo da Equipe (Excelente, Ótimo, Bom, Regular, Ruim) em cada jogo, independente do placar?

E, para concluir, os dois questionamentos finais, que são (ou ao menos devem ser) os objetivos finais de um Clube em relação ao seu Departamento de Formação:

Qual o retorno financeiro obtido pelo clube, de atletas oriundos das Categorias de Base, no último ano?

Qual o retorno financeiro esperado pelo clube, de atletas oriundos das Categorias de Base, nos próximos anos?

Após todos os questionamentos, parece claro que gestores e demais profissionais envolvidos nas Categorias de Base têm um longo trabalho a ser desenvolvido que vai muito além da simples análise de resultados de jogos. Afirma-se, também, que tais questionamentos não compreendem todas as variáveis que podem ser avaliadas pelo Departamento de Formação (a infra-estrutura, por exemplo, não foi abordada). Cabe ao Clube estabelecer as variáveis que lhe sejam mais pertinentes de acordo com seus propósitos e metas.

Caro leitor, esteja certo que a “melhor resposta” para cada questionamento supracitado existe. É importante frisar que tais respostas variam de acordo com objetivos e realidades de cada Clube. Aquele que conseguir encontrá-las, indubitavelmente, se posicionará à frente da concorrência no disputado mercado do futebol. E, nos clubes que estiverem à frente, ao invés de repatriarem “Ronaldinhos” e “Adrianos” nos inícios de temporada, revelarão dezenas de novos craques para o futebol brasileiro, pois, as revelações, ao contrário do que muitos pensam, não são simples obras do acaso e sim resultados do trabalho, planejamento estratégico, coerência e visão de futuro.

Finalizando, acredite: para aqueles que alcançarem as respostas ideais, os resultados de campo e títulos, surpreendentemente (ou não), os acompanharão.

* Artigo publicado no site www.universidadedofutebol.com.br no dia 20/02/2011.

Written by Eduardo Barros

20 de fevereiro de 2011 at 19:06