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Temas atuais relacionados ao Futebol

Publicações 2015

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Caros leitores,

Já faz mais de um ano que não atualizo o blog. Nem por isso deixei de fazer publicações diversas relacionadas ao futebol. Nos últimos tempos as mudanças profissionais foram significativas e constantes, o que impossibilitou uma maior atenção ao blog.

No segundo semestre de 2014 participei de um processo seletivo no Clube Atlético Paranaense. Com a aprovação, desliguei-me do Grêmio Novorizontino e iniciei um trabalho que durou exatos 6 meses. No clube, exerci as funções de Técnico da Categoria sub 13, Auxiliar Técnico da Categoria sub 17 e Coach Individual de todas as categorias do clube. Exerci também a função de Construtor Metodológico, transformando o Modelo de Jogo do clube em um material didático.

Há cerca de 20 dias recebi uma proposta do Coritiba Foot Ball Club. Com grande satisfação aceitei a proposta e iniciei o trabalho neste projeto, que será repleto de desafios e oportunidades.

As publicações de 2015 seguirão quinzenalmente no portal Universidade do Futebol (www.universidadedofutebol.com.br). Projeto que a cada dia ganha mais espaço e representatividade no cenário futebolístico nacional e, porque não, internacional.

Abraços e boa temporada a todos!

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Written by Eduardo Barros

1 de fevereiro de 2015 at 14:27

O treino recreativo no planejamento semanal

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Prática comum das equipes de futebol deve ser realizada na véspera do jogo?

recreativoÉ procedimento padrão nos clubes de futebol, em diferentes categorias, encerrar a semana de treinamentos com um jogo recreativo. Nesta atividade, os atletas jogam fora de suas posições de origem e, muitas vezes, até os membros da comissão técnica participam. Com o objetivo de descontrair o grupo e deixar o ambiente “leve” para a partida do dia seguinte, cerca de vinte minutos do tempo de treino semanal são consumidos para dedicar a uma prática sem qualquer relação com o jogar da equipe ou então com o próximo adversário.

E como em nossa atuação profissional devemos buscar a excelência, reflexões e questionamentos sobre os costumes (muitas vezes empíricos) da modalidade devem ser feitos constantemente com o intuito de aperfeiçoá-la.

Sendo assim, surge uma reflexão sobre o tema: será que o treino recreativo é a melhor atividade para encerrar a semana de treinamentos?

Sabemos que durante um microciclo a correta distribuição da carga de treino é fundamental para que a equipe tenha condições de atingir o pico de performance na competição. E esta carga (física, técnica, tática, psicológica), inter-relacionada para alguns, integrada para outros, ou isolada para outros mais, diminui consideravelmente na véspera da partida. Apesar da diminuição da carga, o ideal é que a sessão de treino, mesmo com um menor desgaste complexo, proporcione adaptações positivas no sistema.

Sistema que, rodada a rodada, está sujeito a alterações, seja por lesões, suspensões, ajustes na construção diária do Modelo de Jogo ou até substituições por nível de desempenho.

Com todas estas alterações, os vinte minutos dedicados ao Recreativo podem ser melhor utilizados com repetições de situações de jogo que fortaleçam o sistema e direcione-o para o cumprimento da lógica do Jogo.

Inúmeras ações do jogo podem ser reproduzidas com uma baixa densidade. Basta a comissão técnica estar atenta em relação a quais intervenções são necessárias e controlar os estímulos para preservar o metabolismo de jogo, que será utilizado no dia seguinte. Bolas paradas ofensivas e defensivas, reposições em tiros de meta, primeira e segunda bola, movimentações em arremesso lateral, setor de pressão, distribuição das peças no campo de ataque, saída jogando, ações ofensivas do adversário, ação em setores vulneráveis do adversário, são apenas alguns exemplos do que pode ser treinado na véspera do jogo.

Mas e o Recreativo? Deve ser abolido do futebol?

Se na véspera do jogo a atenção das atividades deve estar voltada para os ajustes necessários da equipe e para o próximo adversário, o início da semana pode ser o dia ideal para esta prática culturamente inserida no futebol brasileiro.

No início da semana, ainda sem maiores preocupações com o próximo jogo e ainda num processo de recuperação da partida anterior, a justificativa para descontrair o grupo parece mais coerente.

Surgirá então, outro problema:

As equipes que perderem na partida anterior também poderão fazer o treino recreativo?

Aguardo sua opinião, caro leitor!

A propósito: quando você realiza o treino recreativo?

Written by Eduardo Barros

15 de setembro de 2013 at 17:19

Os bastidores da preparação para a Copa-SP

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A formação do elenco para uma das mais importantes competições de futebol junior

copa_sao_paulo_junioresFaltam poucos dias para o término do período de inscrição para a Copa São Paulo de Futebol Junior. Apesar de a competição ter início em Janeiro, acertadamente a federação antecipa a inscrição e publicação dos atletas no BID (Boletim Informativo Diário) para evitar (ou ao menos minimizar) a formação de elencos de última hora, privilegiando o planejamento e a organização dos clubes. Em Novembro, a pré-lista oficial com 30 atletas define quem serão os representantes de cada equipe.

Por enquanto, antes dos trabalhos técnicos preparatórios para a primeira competição de 2014, os treinadores têm inúmeras responsabilidades.

Muitas equipes estão em meio às competições sub-20, que permitem atletas nascidos em 1993, porém que excedem a idade limite para a disputa da Copa-SP. Pensando na formação do elenco, a comissão técnica deve ter ciência das carências originárias pela saída dos jogadores mais velhos e, além disso, definir se na suplência ou na promoção de atletas da categoria sub-17 a equipe terá condições de se manter competitiva. Outras possibilidades são a de abrir espaço para avaliações, ou então, para contratações de reforços.

E como culturalmente a Copinha é vista como a maior vitrine para exposição e negociação de atletas, vários interesses influenciam o que deveria ser óbvio, no entanto ainda é utópico em nosso futebol: a composição de um elenco em que os benefícios ao clube seja a prioridade.

A aproximação dos empresários ao clube, comum durante todo o ano, fica ainda mais evidente no período de inscrição para a Copa-SP. Juntos deles estão os jogadores que são as soluções para todos os problemas do clube e que estão desempregados somente pelas injustiças do futebol. È válido destacar que existem as exceções, que indicam jogadores sem grandes alardes ou falsas promessas.

Os grupos de investimento também surgem como opção no auxílio da formação do elenco. Detentores de direitos econômicos de atletas em potencial, realmente podem reforçar a equipe. Só que para o clube ficam as despesas com o atleta (financeiras, de alimentação, de moradia, médicas e esportivas) já para o grupo de investimento, a maior fatia do retorno financeiro numa possível negociação. Estes grupos aproveitam a situação econômica/estrutural/administrativa de muitos clubes brasileiros para esta fórmula que lhes é bem conveniente.

Outro procedimento comum neste período é a chegada de jogadores mediante uma recompensa financeira. Estes atletas, sempre “bem indicados” podem chegar ao clube através dos diferentes níveis do organograma da instituição. No nível que houver desvio de conduta ocorrerá o negócio.

Esqueçam a possibilidade de ser definida a fórmula ideal para a composição do elenco. Em todas as opções (promoção da base, suplência, avaliação, indicação, contratação) podem estar as reais soluções para a equipe. O indispensável é uma estrutura técnica-administrativa que trabalhe em benefício da instituição, que analise criteriosamente o elenco atual, que não seja influenciada pelo interesse de terceiros e que unifique a linguagem num ambiente em que muitos querem distorcê-la.

Este é o melhor caminho para o legado que a Copa-SP deve deixar ao clube: uma equipe pronta para o decorrer da temporada, com atletas e equipe que tenham o perfil de jogo do futebol moderno.

E no dia-a-dia dos treinadores, a busca pela excelência em todas as suas obrigações que vão além de pensar e executar o treino: a solução de conflitos, os relacionamentos, os contatos, a análise de materiais de jogadores, “os inúmeros não”, “os alguns sim” e a luta constante pela sobrevivência no mercado. E ainda insistem em dizer que é fácil ser treinador de futebol…

Written by Eduardo Barros

15 de setembro de 2013 at 17:04

A vertente física do jogo de futebol no treinamento com Jogos – parte II

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Algumas considerações na elaboração dos Jogos de até 30 segundos de duração

Há algumas semanas foi publicada uma coluna com o objetivo de auxiliar na elaboração de um microciclo de treino, mais especificamente na vertente física do jogo, a partir de um olhar sistêmico para a modalidade.

Para dar sequência a discussão serão apresentados alguns exemplos de quais comportamentos de jogo podem ser treinados nos diferentes tamanhos de campo e tempo de estímulo. Nesta semana, as considerações serão relativas aos Jogos de até 30” de duração (por série).

Para relembrá-los, seguem, abaixo, os dois gráficos, em que o primeiro aponta as exigências físicas predominantes nas atividades em função do tamanho do campo e do tempo de estímulo por série e o segundo mostra o metabolismo predominante, também em função do tamanho do campo e do tempo de estímulo por série:

gf1

 

gf2

 

Dentre as sugestões para as atividades de até ½ do campo e até 30” de duração estão: finalização,  reposição do goleiro com as mãos, assistência, cruzamento,  penetração, ultrapassagem, drible, mobilidade com e sem trocas de posição, 1×1, desarme, pressão, recuperação imediata da posse e retirada do setor de recuperação. Para garantir a intensidade do exercício, em que para jogar bem (vencer) serão necessárias altas velocidades de decisão e execução, algumas regras são importantes. São elas: limitação ou restrição de passes para trás, pontuação para passes diagonais e pra frente, maior pontuação para gols de contra-ataque, maior pontuação para gols de fora da área, pontuação para recuperação da posse de bola e tempo para finalizar. Saber quais e quando utilizá-las é função da comissão.

Para estas atividades, trabalhar com pequenos e médios grupos com, no máximo, 6 x 6 jogadores.

De acordo com a necessidade da equipe, objetivos diferentes podem ser propostos. Exemplificando: uma equipe (de atacantes) pode ter como maior objetivo pontuar marcando gol e a outra equipe (de defensores) sair rápido do campo de defesa, retirando a bola do setor de recuperação e pontuando com passes entre gols caixote ou ultrapassagens com a bola dominada em setores delimitados.

Em relação ao mesmo tempo de estímulo e dimensões oficiais, ou então ¾ do campo, as sugestões de atividades pouco diferem das expostas acima, porém, existem algumas ressalvas: trabalhar preferencialmente com médios grupos, saber que aumentará a incidência de passes longos e diminuirá a incidência de finalização. Com o campo maior, há a possibilidade de reposição do goleiro com os pés e também a de reunir os 22 jogadores para um jogo de bolas paradas ou jogadas ensaiadas, distribuindo os pontos para o jogo de acordo com os objetivos desejados (ataque a bola, gol de cabeça, gol direto, saída do goleiro, etc.).

É importante lembrar que mesmo com poucos jogadores a plataforma de jogo (referência estrutural que orienta a equipe para o cumprimento da lógica do jogo) não pode ser negligenciada. Por mais que seja um jogo em dimensões reduzidas e por um curto espaço de tempo, esta referência também deve nortear as ações individuais e coletivas da equipe para dar maior ordem a grande desordem que caracterizam estas atividades.

E para garantir a qualidade/intensidade das ações com o acúmulo de séries é importante respeitar o tempo de pausa que, para estas atividades, geralmente são aplicados pelo menos duas vezes o tempo do esforço. E é durante a pausa o momento ideal para os ajustes/intervenções para a qualidade do treino e que preferencialmente devem ser feitos por um profissional da comissão que não esteja conduzindo o Jogo (pois este estará com outro(s) grupo(s) em estímulo enquanto o primeiro se recupera).

Para concluir, pensando na manutenção do “estado de Jogo” durante toda a atividade, o acúmulo de pontos permite a competitividade e o treinar complexo das quatro vertentes do jogo como afirma o treinador Rodrigo Leitão, “a todo o tempo o tempo todo”.

Em outra oportunidade, a continuação do tema com as considerações para as atividades de até 5 minutos de duração.

Enquanto isso, aguardo sugestões, críticas e opiniões.

Written by Eduardo Barros

15 de setembro de 2013 at 16:57

Os exemplos dos treinadores brasileiros

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Como você agiria se estivesse na mesma situação?

A atuação e conduta dos técnicos profissionais do Brasil servem de exemplo para auxiliar a formação dos jovens e aspirantes a treinadores que trabalham nas categorias de base das equipes espalhadas pelo país.

Dentro do campo, pode-se aprender muito com a gestão dos 90 minutos. É possível observar a característica principal das substituições e os efeitos que elas resultam no jogo, o comportamento emocional frente às decisões do juiz, ao placar e aos erros e acertos da equipe. Além disso, o próprio desempenho de campo é um reflexo do que o treinador, enquanto líder, conseguiu transmitir aos seus comandados.

Fora de campo os exemplos continuam. Cada reportagem e entrevista coletiva vão construindo a imagem do treinador desde a descrição de como se preparou para o exercício do cargo, a justificativa das vitórias, os porquês das derrotas, até as respostas de acordo com os questionamentos (muitas vezes sutilmente agressivos) da imprensa. A construção final desta imagem (que jogo a jogo vai sendo reconstruída), na ótica do jovem profissional, permite classificar cada técnico (em cada uma das suas condutas) como um exemplo a ser ou não seguido, livre de julgamentos.

E nos últimos dias, alguns acontecimentos envolvendo os principais treinadores do país têm servido de ótimas possibilidades de aprendizado.

Você criticaria o grande ídolo da torcida e o apontaria como um dos principais motivos por sua saída do clube?

Você responderia a uma dura crítica após uma goleada com uma ofensa pessoal?

Você declararia abertamente que, talvez, por uma vaga na seleção seja necessário trocar de clube?

Como será que uma equipe lidera um dos campeonatos mais difíceis do mundo mesmo com salários atrasados?

Você assumiria a responsabilidade pela falta de resultados mesmo com pouco tempo no comando de uma equipe?

Se os gandulas não cumprissem com suas obrigações durante o jogo como você reagiria?

Se um atleta reclamasse publicamente que precisa jogar mais e mesmo com mais oportunidades não correspondesse, você o defenderia?

Após uma sequência de maus resultados, você afirmaria à imprensa que, caso você fosse o gestor, também demitiria?

Você assumiria que o principal motivo para uma pausa na atuação profissional se deu para um período de reciclagem, estudos e capacitação técnica?

Você assumiria, sendo um dos responsáveis pelo futebol nacional de alto nível, que o país está atrasado taticamente?

Ser treinador no país do futebol é exercer uma profissão com imensa exposição. Tentar compreender todo o cenário e saber que cada atitude repercute positiva ou negativamente na gestão de pessoas e dos conflitos relativos ao clube pode ajudar a ter sucesso num jogo que dura muito mais que 90 minutos.

O jogo dos jovens treinadores é menos complexo e envolve menos elementos, mas não deixa de ser um ambiente propício de reflexão e aprendizado para comportamentos e condutas futuras.

Pois nestes jogos, que duram mais que 90 minutos, como diria um companheiro de profissão: “dar treino é um mero detalhe…”

Abraços e até a próxima semana.

Written by Eduardo Barros

15 de setembro de 2013 at 16:48

As concentrações e o mau uso dos recursos no futebol

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Só é possível jogar bem se concentrar?

Algumas verdades do futebol são, para muitos, inquestionáveis. A necessidade da concentração de todos os jogadores convocados de uma equipe na véspera de um jogo (ou até na antevéspera) é uma delas.

Para grande parte da diretoria, comissão técnica, torcedores e inclusive dos próprios jogadores, concentrar-se em hotéis, com conforto, mordomias, refeições à disposição, conexão à internet, TV por assinatura, entre outras regalias, é pré-requisito para o bom desempenho.

Esta prática, realizada empiricamente, é onerosa para os clubes e mesmo assim mantida em virtude da importância cultural de sua realização.

Como o futebol brasileiro vive um momento de constantes reflexões, seja pelo novo vexame do nível de jogo de muitas equipes brasileiras em relação ao futebol europeu (previsto, mas não ocorrido na Copa das Confederações e evidente nas recentes turnês das equipes brasileiras na Europa), ou até pela conduta do coordenador técnico das categorias de base da seleção, Alexandre Gallo, que pretende implantar uma nova mentalidade nas jovens promessas do país, o momento é pertinente para mais esta discussão.

Dos clubes grandes aos pequenos, dos que disputam competições nacionais aos que disputam somente as estaduais, da primeira a última divisão, as concentrações (mais ou menos custosas dependendo dos recursos do clube) sempre estão em pauta como despesas inevitáveis.

Como sabemos, as despesas de um clube de futebol são diversas em cada um dos seus departamentos. Fisioterapia, Nutrição, Fisiologia, Técnico, Administrativo, Financeiro, Operações e Marketing. Será que os gastos com concentração não seriam melhor alocados se investidos nos diferentes setores do clube?

Clubes pequenos sofrem com departamentos médicos em péssimas condições, mas não abrem mão da receita para concentração. Não oferecem suplementação, mas no Sábado tem uma delegação com 30 concentrados para o jogo de Domingo. Tem academias precárias, mas compensam com a hospedagem na véspera dos jogos. Não investem em recursos para o controle da carga de treinamento, porém gastam excessivamente com hotéis. Não possui psicólogo no corpo técnico, mas acredita na “concentração”. Existem ainda muitos outros exemplos: ônibus próprio, salários atrasados, manutenção do estádio, etc.

Se as implicações da prática da concentração tivessem impactos somente financeiros/estruturais, os prejuízos seriam reparáveis; no entanto, o principal problema é humano. Da ocupação do tempo e do nível de consciência dos nossos atletas.

O fato é que até o jogador de hoje das nossas categorias de base espera ansiosamente pelo momento em que, após o treinamento na véspera de um jogo, ele e toda a delegação se enfurnem num hotel para passarem horas e horas ociosas. Ou cometemos o ledo engano de pensarmos que os atletas ficam o tempo todo refletindo sobre o jogo do dia seguinte?

Vários são os motivos que perpetuam as concentrações. Como principais, apontam-se a pressão pelas vitórias (que não permite espaço para “pouca concentração”) e a conduta do jogador brasileiro, boêmio, “da noite” e descompromissado.

Os que apontam os motivos esquecem que preparar-se para jogar bem é um exercício que independe do quanto de conforto é oferecido ao atleta. Um simples espaço em que ele tenha condições de projetar imagens mentais positivas do confronto é suficiente. Além disso, ensiná-lo a controlar a respiração, a se conhecer, a sentir-se e a “esvaziar” a mente pode ser muito mais eficiente que um dia todo habitado num quarto de hotel amontoado de aparatos tecnológicos que lhe fazem passar o tempo.

Repetir um processo enraizado em todas as divisões do futebol brasileiro é mais simples que tentarmos buscar novas soluções, mais complexas, mais profundas e que exigem maior reflexão. Nossa e dos jogadores.

Nós, profissionais do futebol e inseridos nesta cultura, deveríamos fazer o melhor para ressignificar a modalidade, da gestão à área técnica. Para isso, uma mentalidade inovadora, transformadora e disposta a quebrar paradigmas é fundamental. Qual a sua opinião sobre a concentração?

Written by Eduardo Barros

15 de setembro de 2013 at 16:34

A vertente física do jogo de futebol no treinamento com Jogos

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Gráficos apresentados podem auxiliar na elaboração do Microciclo

Caros leitores,

Sabidamente a vertente física tem papel fundamental no desempenho de um futebolista. Sendo assim, o planejamento de todas as sessões de treino deve levar em consideração quais são as adaptações esperadas para um máximo desempenho global, que também é físico, nas situações competitivas.

Este procedimento parece simples de ser realizado, porém, corriqueiramente o vemos prejudicado por algumas limitações que afetam as comissões técnicas. Entre elas:

– Treinadores planejarem os treinamentos técnico-táticos e desconsiderarem as demandas físicas destas atividades;

– Preparadores físicos planejarem atividades com bola preocupados exclusivamente com uma ou duas vertentes do jogo e, por consequência, minimizarem o enriquecimento individual e coletivo da equipe;

Então, pensando em auxiliar as comissões que optam por uma atuação sistêmica e que tem o Jogo como elemento central da Periodização, apresento dois gráficos criados nos grupos de estudos do Paulínia FC em 2009 e que tenho utilizado no desenvolvimento dos microciclos de treino.

Na ocasião da criação dos gráficos, ainda com uma visão integrada, partia do físico para o jogo. Atualmente, com mais leituras, reflexões e discussões (e mais dúvidas também), o ponto de partida são os comportamentos que proporcionam a melhoria da inteligência coletiva de jogo e quais devem ser os estímulos para que eles sejam promovidos. Estes estímulos são distribuídos alternadamente ao longo de uma semana de treinamento e, metodologicamente, são feitos com modificações/adaptações no jogo de futebol, utilizando demandas físicas/metabólicas distintas.

Abaixo, o primeiro gráfico que aponta as exigências físicas predominantes nas atividades em função do tamanho do campo e do tempo do estímulo por série:

gf1

 

Na sequência, o segundo gráfico, que mostra o metabolismo predominante também em função do tamanho do campo e do tempo do estímulo por série:

gf2

 

A experiência, a prática, os erros e os acertos tornam a utilização do gráfico (e de todo Microciclo) cada vez mais assertiva. Para ser cada vez mais assertivo, é pré-requisito ter domínio na criação das REGRAS em cada uma das atividades.

Antes de apresentar alguns exemplos de como utilizo os gráficos na elaboração dos Jogos, deixarei uma semana para opiniões, sugestões, dúvidas e críticas.

Caso tenham ferramentas que utilizam para o desenvolvimento dos treinamentos, agradeço se puderem compartilhá-las. Enriquecerá a próxima discussão.

Enquanto isso, bons treinos e atenção na vertente física. Para muitos influentes do futebol, ela, e somente ela, é a responsável pelas vitórias e pelas derrotas! E você, o que acha?

Written by Eduardo Barros

15 de setembro de 2013 at 16:27

Aquecer pra jogar e jogar pra aquecer

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O aquecimento e a preparação de corpo inteiro para sessão de treinamento

Criar um ambiente de treino propício à melhoria de desempenho e às exigências do futebol moderno requer o envolvimento da comissão técnica em todos os elementos relacionados à sessão de treinamento que podem alterar o rendimento individual e/ou coletivo.

Desta forma, atentar-se inclusive aos pormenores pode contribuir sistemicamente no produto final da equipe (nível de jogo apresentado) e na busca constante do todo maior que a soma das partes.

Um dos elementos que compreende a sessão de treino e pode ser facilmente negligenciado é o aquecimento. O tempo para este tipo de procedimento varia de 5 a 20 minutos e costumeiramente é feito de diferentes maneiras/combinações: trotes, coordenativos de corrida, bobinhos, “dois sem coxa”, gestos técnicos, acelerações, campos reduzidos, brincadeiras, core, estafetas, saltos, etc.

Como a preparação para o componente principal do treino é uma atividade cotidiana e, de certa forma, semelhante, muitas vezes os jogadores (talvez entediados por esta necessidade que se repete dia após dia em toda a carreira) não se concentram o suficiente para sua realização. Ao invés de se prepararem fisiológica e mentalmente da maneira mais adequada possível, muitos optam por colocar a “resenha” em dia, com conversas totalmente descontextualizadas ao trabalho e “economizar” energia, poupando ou roubando nos movimentos determinados (ou não) pela comissão.

Uma vez que a parte principal de uma sessão de treino de quem utiliza o jogo como essência da periodização serão os fractais, em maior ou menor escala, do jogar pretendido, uma boa alternativa para aumentar o nível de concentração do aquecimento e, consequentemente, ficar melhor preparado, é estimular as competências essenciais do jogo (Relação com a Bola, Comunicação na Ação e Leitura de Jogo) em pequenos grupos (no máximo até 3 jogadores).

Após uma pré-ativação sem bola, em jogos com ou sem alvos, restrição ou não de toques na bola, utilização obrigatória da perna não dominante, ou quaisquer outras variações/adaptações nas regras do futebol, é possível criar desde o aquecimento um ambiente de “estado de jogo” indispensável para o jogar plenamente, como menciona o Dr. Alcides Scaglia. Em comissões técnicas bem planejadas, as regras do aquecimento servem até para direcionar os atletas aos macro-objetivos do treino.

A composição de uma atividade com poucos elementos e num espaço significativamente menor que o campo de futebol proporciona uma elevada densidade de ações técnicas que, se corretamente orientadas e conduzidas, influenciarão positivamente o desempenho global de cada atleta no jogo formal.

Além disso, por envolver a capacidade de decisão, a velocidade complexa de jogo (termo utilizado pelo treinador Rodrigo Leitão) é estimulada em especificidade.

Nossos atletas continuarão aquecendo seja com as atividades tradicionais, seja com os jogos que estimulem as Competências Essenciais. Porém, nos últimos 15 anos de envolvimento diário com futebol, incontáveis aquecimentos realizados, orientados ou observados e com o óculos que enxergo o futebol atualmente, tendo a afirmar que a segunda opção é mais eficaz. Afinal, se vamos aquecer pra jogar talvez devamos jogar pra aquecer!

Abraços e até a próxima semana.

Written by Eduardo Barros

15 de setembro de 2013 at 16:19

Entrevista Tática – Niander: Lateral direito do Penapolense-SP

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“O futebol de rua me fez amadurecer mais cedo, aprendendo a malícia e a experiência de jogar com pessoas mais velhas.”

Antes de iniciar a entrevista com o referido atleta, gostaria de deixar uma breve opinião de Tostão, publicada na Folha de São Paulo, que expressa a visão do colunista sobre o desempenho da seleção brasileira na final da Copa das Confederações.

“Por causa de um excepcional jogo não se pode tirar conclusões, mudar conceitos, nem dizer que as críticas anteriores à seleção e ao futebol brasileiro eram incorretas e/ou severas. O que vimos contra a Espanha não tem nada a ver com o que a seleção jogava nem com a qualidade e a maneira de atuar da maioria das equipes brasileiras. Mas o fato mostra que, se o futebol brasileiro, a médio prazo, trabalhar com eficiência e seriedade, dentro e fora de campo, estará, de rotina, e não apenas em um momento, entre os melhores do mundo.”

Parabéns, Tostão, por mais uma valiosa opinião sobre o nosso futebol.

Obrigado, Renato Buscariolli, pelo contato para a entrevista.

1-    Quais os clubes que você jogou a partir dos 12 anos de idade? Além do clube, indique quantos anos tinha quando atuou por ele.

Jockey Clube-SP (12 aos 14 anos); Ituano-SP (15 anos ); Atlético Sorocaba-SP (16 aos 22 anos ); Mineiros-GO (23 anos ); Noroeste (23 anos ); Bragantino-SP (23 e 24 anos ); Operário-MS (24 anos), São Bernardo-SP (24 aos 26 anos) e Penapolense-SP (27 aos 29 ). 

2-    Para você, o que é um atleta inteligente?

Um atleta inteligente tem que valorizar suas características, tentar assimilar o mais rápido possível  o que o treinador pedir e ter uma conduta exemplar fora de campo. 

3-    O quanto o futebol de rua, o futsal ou o futebol de areia contribuiu para a sua formação até chegar ao profissional?

O futebol de rua me fez amadurecer mais cedo, aprendendo a malícia e a experiência de jogar com pessoas mais velhas. 

4-    Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?

Fator indispensável para uma equipe vencer seu adversário é a parte física, pois bem fisicamente o atleta supera suas limitações técnicas e táticas. 

5-    Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?

O atleta necessita de muito trabalho técnico e muita força física. 

6-    Para ser um dos melhores jogadores da sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?

Sou lateral e preciso apoiar muito durante os 90 minutos. Chegar sempre com qualidade na linha de fundo e ter uma ótima recuperação na marcação. 

7-    Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.

Sou um atleta muito determinado na formação tática e procuro entender e fazer tudo que o treinador nos orienta durante a semana . Tenho um bom passe e hoje em dia uma boa equipe tem que valorizar ao máximo sua posse de bola. Como tenho muita força física, procuro sempre explorar minha explosão. Procuro também sempre manter o foco nas partidas.

8-    Pense no melhor treinador que você já teve! Por que ele foi o melhor?

Luciano Dias. Pessoa muito inteligente taticamente e tem uma conduta exemplar. 

9-    Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.

(…) Ele me pediu para atuar na lateral esquerda em um treinamento coletivo. Sou destro e acabei tendo muita dificuldade.

10- Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?

Relembrar todo o trabalho feito na semana, pontos fortes do adversário e o principal que é a motivação. 

11- Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo? Qual você prefere e por quê?

No 4-4-2, os laterais acabam tendo uma função muito importante na marcação, já no 3-5-2, os laterais tem uma liberdade de ataque muito maior. Prefiro o 4-4-2 porque exige do lateral um bom posicionamento tático, fechando na linha dos zagueiros e sabendo apoiar no momento certo. 

12- Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:

  • Com a posse de bola;
  • Assim que perde a posse de bola;
  • Sem a posse de bola;
  • Assim que recupera a posse de bola;
  • Bolas paradas ofensivas e defensivas.

Minha equipe valoriza muito a posse de bola, mas sem perder a agressividade. Assim que perdemos a bola o jogador mais próximo já começa a fazer a marcação pressão. Sem a posse, procuramos diminuir o campo em 40m e sempre pressionar o atleta que está com a bola. Quando recuperamos tentamos valorizar a posse da bola e envolver o adversário!

Nas bolas paradas defensivas marcação por setor e nas ofensivas atacar a bola. 

13- O que você conversa dentro de campo com os demais jogadores, quando algo não está dando certo?

Procuramos manter a calma e o posicionamento pedido pelo treinador. Mas nós atletas precisamos ter a iniciativa de fazer algo diferente para se organizar o mais rápido possível. 

14- Como você avalia seu desempenho após os jogos? Faz alguma reflexão para entender melhor os erros que cometeu? Espera a comissão técnica lhe dar um retorno?

Tenho minha autocrítica e sempre procuro analisar o que poderia ter feito de diferente para evitar os erros. A comissão técnica nos apresenta um trabalho de vídeo para observarmos onde foi que erramos e acertamos na partida. 

15- Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?

A diferença do futebol europeu com o brasileiro é a condição financeira e a obediência tática. Existem estas diferenças porque o Brasil é um país muito corrupto e o atleta brasileiro se destaca na individualidade. 

16- Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma Comissão Técnica, qual seria?

Seja coerente com todos os atletas, independente da situação.

Written by Eduardo Barros

15 de setembro de 2013 at 16:09

A Final que pode mudar o nosso final

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Resultado do confronto Brasil e Espanha pode definir nossos próximos passos

Brasil e Espanha: em 2011, representados por Santos e Barcelona respectivamente, a Final do Mundial de clubes foi vexatória para o futebol brasileiro e ponto de partida para muitos veículos de imprensa, dirigentes, treinadores e outros profissionais do futebol apontarem o abismo entre o jogo brasileiro e o europeu. Menos de dois anos depois, a escola brasileira e espanhola se reencontram, agora representadas pelas suas seleções, na final da Copa das Confederações disputada no Brasil.

Como a grande maioria dos atletas da escola brasileira atua no futebol do Velho Continente e estão habituados aos comportamentos de jogo por lá praticados (no onze inicial, 3 jogam na Inglaterra, 2 na Espanha, 1 na França, 1 na Alemanha e 1 na Rússia),  descarta-se a hipótese de vexame semelhante ao sofrido pela equipe santista. Porém, os princípios de jogo apresentados por cada seleção podem, novamente, expor a distância entre o futebol brasileiro e o europeu.

Uma vez que o placar é a única variável considerada na análise de um trabalho e o futebol é, por característica, imprevisível, a vitória da equipe de Felipão pode mascarar diversos elementos das ideias de jogo do treinador brasileiro que, ocupando o mais alto cargo de técnico de futebol no país, representa como temos pensado a modalidade.

Para a análise do que pode ser a final, além de exercer o papel social de treinador (ainda que num cargo de pequena expressão), exerço também o papel de torcedor.

E enquanto o torcedor quer o título para o nosso país e a confiança para a Copa do Mundo que se aproxima, o treinador quer mais uma aula espanhola, de ideias para um bom e belo futebol.

O torcedor vislumbra que em pouco tempo de comando, Scolari conseguiu transformar uma equipe desacreditada em favorita. Imagina o quanto não poderá ser feito num trabalho em longo prazo? Já o treinador questiona se, mesmo com mais tempo para treinar, os princípios de jogo serão mantidos.

O torcedor vê David Luiz extremamente raçudo e marcador. O treinador o vê muitas vezes mal posicionado num ataque à bola desordenado.

O torcedor vê Luiz Gustavo com uma precisão impecável no passe. O técnico vê um volante que escolhe preferencialmente o passe cadenciado e praticamente não pisa no campo de ataque.

O torcedor vê Neymar decisivo, exímio finalizador. O técnico, lamentavelmente, o vê como “boleirão”, reclamão e pouco coletivo.

O torcedor concorda com a opinião da imprensa, que classifica o Oscar como exausto neste final de temporada. O técnico o vê isolado, com volantes distantes, num setor em que todos os adversários têm conseguido, com boa organização defensiva, neutralizar o Brasil.

O torcedor não se importa com o futuro da modalidade, com a evolução do jogo, do treino e com aquilo que é tendência no futebol mundial. O treinador sonha que o futebol praticado pelos espanhóis sirva de exemplo para nossos treinadores e dirigentes, grandes responsáveis pelo futebol do futuro (e por falar em futuro, lembram-se que nossa seleção não está no mundial sub-20?).

Por fim, o torcedor quer gritar “É CAMPEÃO!” e o treinador bater palmas para a seleção que joga o melhor futebol da atualidade e que precisa vencer para, quem sabe, permanecer acesa a chama que em 2011 se acendeu e que alguns profissionais lutam arduamente para que assim permaneça. Uma vitória do Brasil pode atrasar este processo e apagar a chama!

Até Domingo as 19h00, decido em qual papel assisto ao jogo…

Você já se decidiu? Escreva a sua opinião!

Written by Eduardo Barros

15 de setembro de 2013 at 16:00